quarta-feira, 18 de julho de 2018

O melhor presente

Tínhamos tido a ideia de levar Peter Pan às Berlengas no dia de anos dele, ía ser uma experiência nova, andar de barco e conhecer uma ilha, falar-lhe nos piratas era garantia de sucesso. Mas quando comprámos os bilhetes na primeira agência que encontrámos no cais, não sabíamos a sorte que íamos ter, porque eles são os únicos que fazem a viagem em lancha rápida, uma verdadeira montanha russa a exigir casacos oleados e coletes salva-vidas. A ida foi qualquer coisa de alucinante, havia agitação marítima, a lancha parecia que voava por cima das ondas, para depois embater com força e voltar a levantar a frente (sei lá eu se é a proa ou a popa...), e enquanto Peter Pan delirava eu tive ali dois ou três momentos de apreensão perante a força do mar e a altura das ondas.





Só aquela viagem já teria valido a pena pela excitação de Peter Pan, mas chegar à ilha e ver a praia minúscula aninhada entre as rochas, e aquele azul indescritível da água, deixou-me quase hipnotizada. Tivémos a sorte de ficar para último na visita de barco às grutas, e assim tivémos tempo de aproveitar a praia quase vazia de manhã. Nunca tinha estado numa praia em que conseguisse sentir o silêncio. Até Peter Pan falava mais baixo do que habitualmente, até ele sentiu que aquele lugar devia ser respeitado.




Fizémos a visita às grutas e descemos junto ao Forte de São João Batista, e daí subimos a pé até ao ponto mais alto da ilha, escadas intermináveis e íngremes mas que valeram cada degrau, porque a vista lá de cima é realmente de cortar a respiração, e sentimo-nos tão pequeninos perante aquela imensidão de mar azul. Não deu para manter este estado contemplativo e de comunhão com a natureza (gaivotas por todo o lado, esta é a casa delas) durante mais de dois minutos, porque Peter Pan já só perguntava quando é que era a viagem de barco outra vez (mas foi um herói e fez o percurso de regresso até aos cais pelo pé dele, sem um queixume).





Ainda tivémos tempo de voltar à praia, que já estava a abarrotar de gente, antes do regresso na mesma lancha, desta vez uma viagem mais calma, com direito a uns zigue-zagues para manter a emoção até ao fim.

Mas a maior emoção foi ouvir Peter Pan dizer, aos saltinhos de pura alegria, já no cais e depois de irmos cumprimentar e agradecer ao capitão, "este foi o melhor presente da minha vi-da!!"

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