Li este texto aqui em baixo como quem se vê ao espelho de manhã, ainda com os olhos inchados (e se os meus andam inchados agora...). Depois reli e lembrei-me do meu irmão. E da cara que a maioria das pessoas fazia quando nos via a falar normalmente e até a rir, nos dias e semanas que se seguiram à morte da mãe. Até o L. me chegou a dizer que eu não tinha feito o luto. Que devia parar e chorar. E eu não consegui explicar-lhe então, e se calhar agora também não, mas este texto diz tudo. Aquilo que eu sinto, que penso, que acredito.
Chorei tudo o que tinha de chorar naqueles dias. Aliás, chorei muito mais do que quando foi o meu pai. Porque nessa altura eu tinha de mostrar-me forte para a mãe, para ela não desabar. Agora já não tinha de me preocupar com ninguém. E chorei tudo o que precisei. Mas depois tomei consciência que tinha o maior motivo de todos para me mostrar forte: o meu filho precisava de mim. Não bastava todo o carinho e atenção e cuidado que o L. lhe deu naqueles dias (em que foi pai e mãe, e cumpriu o que lhe pedi "toma conta do Pedro, aconteça o que acontecer, só preciso que cuides dele"), ele precisava de mim, e eu não queria ser uma mãe triste e deprimida ao pé dele. E prometi a mim mesma (e aos meus pais) que ele iria continuar a ver-me sorrir e rir com as gracinhas dele, e que ía ser a mãe de sempre para que a sua felicidade e alegria não fossem afetadas.
Também acredito piamente que falar das situações negativas só serve para empolá-las e dar-lhes importância, e o que a maioria das pessoas chama de desabafar (que normalmente não passa de queixar-se de tudo e mais alguma coisa) só serve para atrair mais do mesmo. Não tenho feitio para coitadinha. Lambo as minhas feridas em silêncio e sozinha. Reergo-me uma e outra vez. Aceito o que a vida me dá (ou me tira) e reorganizo-me de acordo com a nova realidade, uma e outra vez. Pergunto "e agora?", e faço por isso. Talvez porque acredito profundamente que tudo acontece por uma razão (mesmo que - ainda ou nunca - não a compreenda).
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