sexta-feira, 30 de maio de 2014

Explicar

Li este texto aqui em baixo como quem se vê ao espelho de manhã, ainda com os olhos inchados (e se os meus andam inchados agora...). Depois reli e lembrei-me do meu irmão. E da cara que a maioria das pessoas fazia quando nos via a falar normalmente e até a rir, nos dias e semanas que se seguiram à morte da mãe. Até o L. me chegou a dizer que eu não tinha feito o luto. Que devia parar e chorar. E eu não consegui explicar-lhe então, e se calhar agora também não, mas este texto diz tudo. Aquilo que eu sinto, que penso, que acredito. 
Chorei tudo o que tinha de chorar naqueles dias. Aliás, chorei muito mais do que quando foi o meu pai. Porque nessa altura eu tinha de mostrar-me forte para a mãe, para ela não desabar. Agora já não tinha de me preocupar com ninguém. E chorei tudo o que precisei. Mas depois tomei consciência que tinha o maior motivo de todos para me mostrar forte: o meu filho precisava de mim. Não bastava todo o carinho e atenção e cuidado que o L. lhe deu naqueles dias (em que foi pai e mãe, e cumpriu o que lhe pedi "toma conta do Pedro, aconteça o que acontecer, só preciso que cuides dele"), ele precisava de mim, e eu não queria ser uma mãe triste e deprimida ao pé dele. E prometi a mim mesma (e aos meus pais) que ele iria continuar a ver-me sorrir e rir com as gracinhas dele, e que ía ser a mãe de sempre para que a sua felicidade e alegria não fossem afetadas.
Também acredito piamente que falar das situações negativas só serve para empolá-las e dar-lhes importância, e o que a maioria das pessoas chama de desabafar (que normalmente não passa de queixar-se de tudo e mais alguma coisa) só serve para atrair mais do mesmo. Não tenho feitio para coitadinha. Lambo as minhas feridas em silêncio e sozinha.  Reergo-me uma e outra vez. Aceito o que a vida me dá (ou me tira) e reorganizo-me de acordo com a nova realidade, uma e outra vez. Pergunto "e agora?", e faço por isso. Talvez porque acredito profundamente que tudo acontece por uma razão (mesmo que - ainda ou nunca - não a compreenda).

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