segunda-feira, 7 de abril de 2014

Sobreviver

Porque hoje preciso de me lembrar disto:


Receita para sobreviver

Desculpa, não sei medidas, faço isto sempre a olho. Calculo também que dependa sempre do tamanho da (tua) dor , e do gosto que queres dar à sobrevivência. Eu gosto de coisas intensas e é por isso que, nesta receita, ponho sempre muito de mim, muito do que aprendi e muito do que quero aprender. Sim, é possível sobreviver-se. Temos que ter lágrimas. Muitas. Ninguém sobrevive se não sentir tudo, se não verter as dores todas pelos olhos, se não gritar, insultar, praguejar. Chora-se muito porque doi demais, porque achamos que o mundo não voltará a fazer sentido. Sentimos o chão a fugir, como se a terra se abrisse sob nós. É assim. É mesmo assim que se sobrevive. Depois pegamos num ou noutro Amigo. Aqui gosto sempre de ser contida porque sou esquisita nos colos que peço. Têm que ser frescos, do dia, mas têm, como me ensinou o Vinicius, que já ter sofrido muitos desgostos, para saberem dar valor à dor que estamos a cuspir. Deitamos a cabeça no regaço deles, ou ligamos (porque as vozes também sabem ser um colo) e falamos. Falamos de tudo, várias vezes, questionamos, enraivecemo-nos, mandamos coisas ao chão. Perguntamo-nos porquê a nós, porque é que acontecem estas coisas. E choramos. E depois rimos, porque é suposto sabermos rir-nos de nós mesmos e das nossas desgraças. E depois, devagarinho, passados muitos dias, como (também) me ensinou o Miguel Esteves Cardoso, começamos a caminhar. Há um dia de sol que nos ilumina a alma e tudo faz sentido nem que seja só por cinco minutos. E voltamos a acreditar que é possível recomeçar. Sempre recomeçar. O que não nos derruba faz-nos, invariavelmente, mais fortes e isso é tudo o que não nos podemos esquecer. Pensar no legado que queremos deixar, nas coisas boas que a vida tem e que não dependem de um amor nem de um amar. Dependem de nós, só de nós, por dentro, com o ar frio na cara ou com um sol quentinho que se estende ao corpo todo. Ler aquele livro. Ouvir aquela música até deixar de doer. Ouvir outras músicas que nos mostrem que, se fecharmos os olhos, podemos ir onde quisermos. E irmos, de facto. Beber aquele café especial. Ou comer uma coisa proibida. Ou alugar um fime que nos faça doer a barriga de tanto rir e que não envolva beijinhos nem casos de amor. Reaprender a gostar da nossa individualidade. Devagar, sem pressas. Tudo tem um tempo e os frutos, quando são amadurecidos à pressa, não têm sabor nenhum. Vai correr tudo bem. Quando deres por ti és uma sobrevivente. E eu vou estar aqui para te lembrar isso. (...)

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