quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O que me tenho esquecido de registar

Peter Pan começou a gatinhar com quase um ano e três meses, para minha alegria imensa, que o via a esfregar a barriga pelo mosaico enquanto rastejava pela casa ao melhor estilo ranger, e morria de pena de não o ver a gatinhar, a bater com as mãos papudas no chão e a abanar a fralda como uma lagartixa gorducha.

Fiz um gorro para o meu pequeno buda, que já não está tão pequeno assim porque o gorro ficou apertado. A primeira reação foi cortá-lo às tiras só por vingança e despeito (o gorro, claro...). Guardeio-o no fundo do cesto das lãs, ainda a decidir se vale a pena desmanchá-lo e fazer tudo de novo.

A semana passada houve uma noite em que Peter Pan não sossegava por nada. Choramingava, íamos por-lhe a chucha e ainda era pior porque depois de nos sentir por perto não queria ficar sozinho. E largava num berreiro assim que saíamos do quarto. Perto da uma da manhã tomámos a decisão crítica: pela primeira vez, trouxémos o nosso bebé para dormir connosco uma noite inteira. Ele acalmou, claro, e dormiu como um anjo, um anjo irrequieto com um dedo sempre enfiado na nossa boca, a escarafunchar-nos as gengivas e os dentes como é o hábito dele para adormecer. Nós não descansámos nada de jeito, e pensámos que tínhamos aberto a caixa de Pandora, e que na noite seguinte íamos ter sinfonia de meia noite para voltar a conseguir deitá-lo no quarto dele, sozinho (nada, nicles, rien de rien.... foi como se não tivesse acontecido, adormeceu na cama dele sem um ai... mesmo os anjos têm noites más em que não querem estar sozinhos...).

Esta manhã o L. chamou-me "vê lá como ele está a dormir..." para eu apreciar deliciada o nosso texugo de bruços, joelhos encostados à barriga e cu espetado no ar, tal e qual como eu dormia com a idade dele.

Quando o pai ralha com ele ou lhe franze o sobrolho porque está prestes a fazer asneira, Peter Pan estende as mãos e com os dedos faz o gesto típico de fazer cócegas, enquanto o brinda com o seu melhor sorriso rasgado e olhos semicerrados, capaz de desarmar uma pedra da calçada. O pai desmancha-se a rir, porque realmente não se aguenta aquele ar maroto de quem sabe que se está a safar em grande estilo.

(Podia vir aqui escrever todos os dias que o melhor do meu dia é o meu filho. O seu sorriso. Os olhos inchados de sono a piscar enquanto aponta para o avião de madeira pendurado no tecto do quarto, assim que acorda de manhã. O cheiro dele quando aninha a cabeça no meu colo e pede a chucha. Os gemidos de satisfação que faz enquanto come. Mas acho que era capaz de se tornar repetitivo...)

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