Desde que voltei ao trabalho tive de criar uma nova rotina para as manhãs. Acordar às oito passou a ser só uma recordação longínqua. Mais não seja porque Peter Pan dá toque de alvorada antes das sete. Nunca mais acordei mal disposta. Ramelosa e em estado zombie, sim. Rabugenta e a praguejar contra a vida, não. Acordo a sorrir com o som do parlar do meu filho. Ainda de olhos fechados, fico ali a ouvir os bruuuuuuu's, os da-dásss, e todo um discurso empolgado que ele tem tem com os peluches. Não chora, não grita, fica ali a falar sozinho. E eu sorrio. De manhã. Quem diría?
Entro no quarto dele, dou-lhe um pouco de água, ajeito-o na cama, devolvo-lhe a chucha perdida no meio dos lençóis e volto a sair, fechando a porta para não entrar luz nenhuma. E ele fica-se a dormitar mais um pouco. O tempo suficiente para eu tomar banho, pôr creme no corpo (foi preciso chegar aos 35 para me habituar a pôr creme no corpo todas as manhãs, religiosamente. Aquilo que dantes fazia quase por frete e como uma perda de tempo, passou a ser um ritual diário que me lembra da importância de cuidar de mim) vestir-me e dar cor à cara, tomar o pequeno-almoço devagar (e sentada à mesa, com calma, a ouvir o silêncio da casa... outra mudança drástica) e preparar o biberão de leite dele.
Depois, já pronta para sair de casa, abro devagarinho o estore, vejo-o a levantar a cabeça à procura da luz, a encontrar-me com os olhos ainda inchados de sono, a boca a abrir-se num sorriso imenso, a mão a abrir-se num chamamento para pegar nele, fico ali uns segundos só a olhar para aquele corpo gorducho no seu babygrow colorido, gosto de o ver assim vestido à bebé, o meu bebé grande, antes de o vestir à homenzinho (betinho, nas palavras do pai), o meu menino, a luz das minhas manhãs, a alegria que nunca julguei possível ter antes de beber café.
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