Faz sentido continuarmos a celebrar o aniversário de namoro? A data em que nos beijámos pela primeira vez naquele banco corrido ao fundo do café que já não existe? Para mim faz. Ainda por cima são 20 anos. Vinte. Anos. Tudo o que vivemos. Tudo o que crescemos. Juntos. Sempre juntos. Devemos ser umas aves raras nesta época em que as relações não aguentam a primeira contrariedade, em que as pessoas não estão para se chatear e ter trabalho. O trabalho que dá manter a chama acesa, mesmo que muitas vezes abane com ventos gélidos que varrem de várias direcções, que quase a fazem desaparecer num rasto de fumo em espiral. O trabalho que dá proteger e mimar os sorrisos e as borboletas na barriga, mesmo quando estamos de mau humor ou as horas não chegam para mostrar o carinho que o outro nos faz sentir.
Sim, faz sentido festejar este dia, recordar como tudo começou, reflectir sobre o que já passou, e pensar em tudo o que nos falta viver ainda. Porque o amor, todo o tipo de amor, deve ser celebrado e acarinhado e levado nas palminhas para não definhar, para não morrer.
Neste último ano o "nós" foi ficando para segundo plano, é natural, deu origem a um amor novo que nos preencheu os dias de uma forma total e avassaladora. Neste último ano deixámos de ser um casal para passarmos a ser ele, o nosso amor pequenino, o nosso sopro de vida. Devagar, pouco a pouco, vamos retomando os gestos e momentos só nossos, o abraço em que adormecemos e que me traz os sonhos, os filmes vistos a dois pela noite dentro, os risos e as piadas a que só nós achamos graça.
O nosso mundo já só faz sentido a três, mas para nos sentirmos plenos teremos de ser antes de tudo nós, que para além de pais são homem e mulher, sócios de gestão imobiliária e gestores de finanças familiares, coordenadores de actividades e bobos da corte para entreter o pequeno lorde, mas também amigos e amantes, companheiros desta viagem que já dura há vinte anos.
Porque o que interessa não é chegar, é fazer a viagem.
Por isso digo e repito porque continuo a senti-lo como verdade absoluta.
Mesmo que o futuro nos trocasse as voltas amanhã.
Serás sempre o amor da minha vida
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