sexta-feira, 29 de junho de 2012

Um coração gigante

Pedro. O nosso filho vai chamar-se Pedro. Por causa do dia de hoje. Dia de São Pedro. Dia em que nasceu o meu irmão. O "padrinho", mesmo que cheguemos à conclusão que não queremos baptizá-lo. Sempre soube que o N. sería o padrinho do meu primeiro filho, sem hipótese de considerar sequer outra pessoa. A adoração que lhe tenho é de sempre, a admiração tem crescido ao longo dos anos em que o vi crescer e transformar-se no homem que é hoje. Mas nenhuma transformação foi tão rápida ou drástica como vê-lo tornar-se pai. O meu irmão não pegava num bebé ao colo. Ou então ficava teso e nem se mexia de tão desconfortável. Agora passa noites a tomar conta da filha quando a C. faz turnos. Diz-me pelo telefone, cheio de ternura, depois de um dia de trabalho "vou para casa dar a papa à minha Shreka e deitá-la". Acompanha os TPC's do meu sobrinho, incute-lhe regras, educa-o, e também rebola com ele no chão em sessões de wrestling.
Há coisa de duas ou três semanas, telefonou-me num sábado à tarde a perguntar se eu estava em casa "então já aí passamos". Pensei que viesse com a família toda, mas entrou-me pela porta seguido só do meu puto mais novo. Eu sabia que o L. estava a passar uma má fase conjugal, a gravidez da S. não estava a ser nada fácil, com uma série de complicações, incluindo ameaça de aborto, e tudo junto estava a afectá-los psicologicamente e enquanto casal. E o meu irmão, com o seu coração gigante, só disse ao mais novo "estás a precisar de ir falar com o pai". E assim foi buscá-lo aos Bombeiros depois de um turno nocturno, levou-o à Serra e deixou-o sozinho na campa (desta vez não teve de saltar o muro do cemitério), para que ele pudesse desabafar tudo e encontrar ali um alívio que mais ninguém lhe podia dar. Ao vê-los ali à minha frente, o L. com os olhos inchados e vermelhos da directa que tinha em cima e do choro que o acalmou, e o N. cansado das várias horas a conduzir, mas com um sentimento de dever cumprido, senti um imenso orgulho. Porque fazer o que o N. fez naquele dia requer generosidade. Sensibilidade. Empatia. Preocupação com o próximo. Coração.
O meu irmão é assim. Hoje faz 33 anos. E acho que não sabe nem sonha o quanto o adoro, o admiro, me orgulho dele.

2 comentários:

  1. Acabei de ler com os olhos rasos de água...tu és uma doçura, sabias?
    Lindo de se ler :)

    um beijo

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  2. Anna^, com irmãos assim, é fácil :)
    (Obrigado)

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