quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Quebrar o silêncio

Não encontro as palavras. Pensei que estaríam algures entre Évora e Beja, ou numa rua estreita ladeada de esplanadas de Amesterdão. Mas não. Julguei que fosse do cansaço, e que depois das férias elas voltaríam fluídas e soltas como antigamente. Não voltaram. Podia até divagar que foram atrás do sol e de águas tépidas, mas também não deve ser isso, o sol ainda cá está (30º mais precisamente) e aquece a alma (a minha pelo menos, que conheço muito boa gente que já deita calor pelos olhos).
As palavras foram-se esvaindo pelas frestas das rotinas confortantes que me distraem nos dias que parecem iguais (mas não são). E amuaram com ciúmes das fotografias gordas e espampanantes. Estarão algures escondidas num vão de escada húmido, escuro e bafiento, a planear vingança ou um regresso triunfal. Voltarão quando lhes for devolvido o direito de anunciarem boas notícias (ou quando tiverem de manifestar um pesar tão grande que nenhuma foto consiga transmitir).
As palavras exigem grandeza de momentos e fogos de artifício para mostrar. Mas disso não tenho para lhes oferecer (por agora). Anseiam por beleza pura e cores vivas. Mas os meus olhos guardam só para eles a luz que entra de manhã pela janela do quarto, e enche os lençóis de linho branco de arabescos pontilhados.
Perdi as palavras. Ou elas perderam-me.

2 comentários:

  1. Sinceramente para mim é "indiferente", isto é, a tua escrita enternece-me mas as tuas fotos também! Por isso ,podes ir alternando que não me importo nada ;)

    beijinho

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