sexta-feira, 3 de abril de 2015

Um ano sem ti

Não imaginava que fosse possível. Não imaginava sequer uma vida onde tu não existisses fisicamente. Onde não te pudesse ver e ouvir. E agora, um ano depois de me teres deixado orfã da verdade mais basilar que tinha: o teu amor incondicional, a tua presença; tenho a certeza que consigo sobreviver a tudo. Que sou mais forte do que algum dia imaginei.
Sabes, o Peter Pan está a dormir agora mesmo na cama nova, foi um delírio quando a viu montada, e no momento em que tirava uma foto para mandar aos padrinhos pensei em ti, como estarías de sorriso babado a vê-lo assim tão feliz. Tenho a certeza absoluta que o vês e velas por ele, uma crença inabalável nesta verdade que não é ditada por nenhuma religião, mas unicamente pelo meu sentir-me protegida por algo que não compreendo, que não vejo, mas que está lá, sempre presente, uma companhia ténue como se fosse uma música de fundo da qual só nos apercebemos quando pára de tocar.
"Eu perdoo mas não esqueço", desculpa mas é mesmo assim, já não estou zangada, mãe, a sério que não estou, mas não esqueço, não consigo, e há dias em que custa mais, e não têm de ser as datas de aniversários, a maioria das vezes são os dias em que o teu neto faz ou diz algo novo, ou está particularmente feliz (ele é uma criança feliz, tu sabes....) e vem-me à cabeça como gostava que o visses (eu sei que vês... mas não é a mesma coisa...) ou pelo menos que pudesse ligar-te a contar o que ele tinha feito, nem que fosse uma frase nova, ou que está a dormir a primeira sesta na cama de "crescido".
Já não estou zangada, mãe, e na maioria dos dias a vida sobrepõe-se às memórias dolorosas que não consigo apagar porque para o bem ou para o mal também moldaram aquilo que sou, mas que mantenho enterradas o mais fundo que consigo para seguir em frente com a alegria e paz que tu me mereces e que sempre quiseste para nós. Mas nem sempre consigo que seja assim, e por estranho que pareça é nos dias mais felizes que sinto mais a tua falta, por querer partilhar contigo o que te enchia a alma e o coração: ver aqueles que amavas, felizes.
Era essa a tua essência. É essa a tua memória. A minha memória de ti.

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