"Amar um filho é enroscá-lo no colo com medo que o tempo passe. Com medo que o tempo corra. É abraçar o momento de forma simples, efémera, mas eterna. Com os dois braços apertados, fazê-lo perdurar para além das noites em claro e dos dias de novas ânsias. Amar um filho é contemplar um rosto e sabê-lo de cor. Durante o sono. Durante o choro. E é embalar no peito que estremece de medo, aquele ser pequenino que um dia cresce. Tem que crescer.
Amar um filho é querer guardar tudo. O cheiro. Os gemidos baixinhos e os gritos que enlouquecem. Os dedos pequenos bem marcados e os pés gordinhos que apetece comer. Amar um filho é cantar-lhe baixinho, mesmo que a nossa voz assuste o sono. E é calá-lo no nosso corpo, porque ele é parte do nosso corpo. A nossa vida. Toda ali.
Amar um filho é querê-lo perto e protegê-lo. Sempre nosso. Sempre pequeno. Mas amar um filho é deixá-lo ir. Em cada etapa, deixá-lo ir. Porque amar é soltar amarras. Ver cair pelo próprio pé. Ver errar pelo próprio pé. Amparar. Levantar. Amar com liberdade e cada vez mais receio. Num contra-senso que apavora, mas que tem que ser. Porque ele tem que crescer.
Mas, o colo da mãe é invisível. Está lá mesmo não estando. Nas liberdades diárias que a custo se impõem, no cortar do cordão que se crê eterno. Porque o é. Até que se façam velhinhos e nós ainda mais velhos.
Porque amar um filho é bonito. É simples e é bonito. Não precisa de floreados ou adjectivos. Porque um filho é amor. Somente isso."
(Pelas palavras do P., com todo o saber que ele também sabe).
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