segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Mais do que olhar (Dubai III)








Não se vê polícia nas ruas, mas sentimo-nos completamente seguros, as pessoas são prestáveis e simpáticas, e a sociedade é mais aberta do que imaginei (o turismo a isso obriga). Mesmo assim, fez-me alguma confusão ver mulheres turistas de alças e mini-saias, num completo desrespeito pela cultura do país. Como ía trabalhar, tive o cuidado de só levar calças e roupa adequada, mas mesmo para passear andava sempre com uma echarpe para tapar os braços, não por medo de ser repreendida, mas sim por uma questão de respeito. Sou eu que estou no país deles.
A única vez que me senti discriminada por ser mulher, nem sequer foi por um árabe, mas sim por um indiano. Ao entrarmos para uma sala de reuniões, mandou-me parar para o P. passar à minha frente, por ser homem. Ele disse-me entre dentes "se é para isto, vamos já embora!", mas respirámos fundo e fizémos o nosso trabalho, e saímos dali o mais rápido possível. Foi também aí, num mercado abastecedor fora dos limites da cidade, que vi um pouco do outro lado do Dubai, aquele de que ninguém fala: os emigrantes pobres e sujos que fazem o trabalho pesado. E consolidei a ideia que já tinha dos indianos, por me ter sentido tão desconfortável e incomodada com os olhares babosos que me perseguiam enquanto andava pelo meio deles, sempre de cabeça erguida e cara de nenhuns amigos.
No percurso de regresso, o olhar perde-se nas obras infinitas que preparam a cidade para a Expo2020. O Dubai é isto, um imenso estaleiro a céu aberto, e biliões de dólares enterrados na areia.

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