quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Dar asas

Peter Pan já tinha dito várias vezes que queria andar de avião. Como não sabíamos qual ía ser a reação, se tería medo ou não, optámos pela viagem mais curta possível, ida e volta Lisboa - Porto.
Vasculhei a net à procura de um bom preço, comprei os bilhetes com dois meses de antecedência, e fiquei a rezar para que não chovesse nesse dia.
Só lhe contámos a novidade uns dias antes da viagem, e a partir daí a agitação não parou de crescer. Esbugalhou os olhos e perguntou de sorriso rasgado " a sério? É mesmo verdade que vamos andar de avião?" E ao ouvir a resposta afirmativa, começou aos saltinhos num histerismo que me comoveu. E assim foi nos dias seguintes, em que perguntava vezes sem conta se era mesmo verdade, e pulava de alegria sempre que ouvia o "sim!!!"
Fizémos a viagem de carro até Lisboa debaixo de chuva (e eu a imaginar que no Porto devia estar bem pior...), Peter Pan num misto de impaciência e nervoso miudinho, sempre aos pulos e de sorriso imenso, e nem os quarenta minutos de atraso na partida o aborreceram.
Delirou com a descolagem, ficou muito atento a ver os prédios a ficarem mais pequenos, as nuvens debaixo da asa, o recorte da costa que o pai ía explicando. Aterrámos com a mesma euforia, e a certeza de que lhe estávamos a proporcionar uma experiência inesquecível.
Fomos de metro até ao centro, e nesse percurso de 40 ou 50 minutos, o pequeno texugo adormeceu de cansaço, tal tinha sido o entusiasmo da manhã. Passeámos nas ruas do centro, descemos até à Ribeira, vimos os barcos e a ponte, "almoçámos" numa esplanada às quatro da tarde, ao som de música de rua e rodeados de turistas. Fomos até à Livraria Lello mas desistimos da ideia de entrar quando vimos a fila à porta. Peter Pan não se importou muito, só pedia para ir para o aeroporto, porque queria andar de avião outra vez. (Tudo isto sem apanhar um pingo de chuva, e sem sentir sequer uma ponta do frio típico do norte...).
O voo de regresso foi vivido com a mesma excitação e deslumbramento, Peter Pan a dizer que o que mais gostava era de sentir o avião a levantar e a aterrar, e a envergonhar-se no momento de ir ver o cockpit, recusa que manteve até ao fim, com muita pena minha. Mas a felicidade dele era quase palpável, e a alegria transbordante que lhe saía do sorriso foi o maior sinal de um dia tão cheio de emoções, que acabou com ele a adormecer profundamente no carro, antes mesmo de sairmos do estacionamento do aeroporto.

(Irei guardar na memória o teu olhar deslumbrado e o teu riso de euforia.
Que possa sempre dar-te asas, meu amor pequenino...)











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