Com uma (sentida) vénia (XXIV)
"A vontade de mudar muitas vezes é proporcional ao receio de nos vermos diferentes. Em determinadas ocasiões habituamo-nos ao conforto de determinadas lentes de contacto e a roupas que sentimos como nossas. Em algum momento deixámos de nos questionar se podia ser diferente, deixámos de nos questionar, ponto.
Mas nós só continuamos a pedalar sem medo porque acreditamos que aquela mão no selim continua lá, que é graças a ela que mantemos o equilíbrio, que é ela que nos salva de uma queda dolorosa. Até ao momento em que olhamos para trás, só para confirmar que a mão ainda lá está, e quando o fazemos, e vemos que afinal aquela mão já não nos segura, apenas nos acena ao longe a encorajar-nos a continuar, nesse pequeno momento caímos desamparados por não acreditarmos em nós mesmos para prosseguir sozinhos ou então, após um breve desequilíbrio de susto, enchemo-nos de coragem e continuamos o caminho com confiança. Prosseguimos sem rodinhas, sem mão, mas mais fortes do que antes.
Por vezes, acreditar que somos capazes de prosseguir sozinhos, deixando medos antigos que já não nos servem para trás, é difícil e a coragem parece não chegar. Há que aprender a cair e a levantar, a cair e a voltar a levantar, até ao dia em que acreditamos, ainda que a medo, que conseguimos deixar o que já não nos faz falta para trás, e lançamo-nos na descoberta de um Eu que há tanto ambicionávamos. E depois, há que continuar a manter o movimento, um constante movimento, para conseguirmos encontrar o nosso equilíbrio."
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