domingo, 15 de março de 2015

Fechar uma porta

Tirar o anel de ouro que usei durante vinte anos como se fosse uma aliança (e para mim, era) foi o encerrar de um ciclo da minha vida. Um ciclo de vinte e um anos repletos de todos os sentimentos que cabem numa vida a dois, no meu crescimento enquanto pessoa, mulher, companheira e mãe. Mas também um ciclo que me obrigou a amadurecer e a refletir muito. No que sou e no que quero. Pela primeira vez em muitos anos estou a ser egoísta, a colocar-me a mim própria à frente dos outros, a deixar de arranjar desculpas para a falta de atenção, a falta de carinho, a falta de me olhar nos olhos e ver-me, ver-me realmente e perceber-me. Compreendi há muito tempo que tinha de tomar conta de mim própria, que se eu não o fizesse, ninguém o faria por mim. Mas demorei muito tempo a admiti-lo, a verbalizar a verdade que já conhecia: não tenho medo de estar sozinha. Prefiro isso à sensação permanente de estar incompleta, de me faltar alguma coisa para ser feliz, de estar constantemente à espera de uma migalhas de atenção que deviam ser naturais e espontâneas. Quero mais que isto. Mereço mais do que isto. Tomei a decisão mais difícil e controversa da minha vida. Não sem antes pensar em todas as hipóteses, em todos os cenários, todas as consequências que ela traria. Tomei a decisão mais difícil da minha vida em plena consciência, ponderadamente, sem precipitações, mas também sem hesitações. Sem arrependimentos.
Guardo no coração uma história de amor de vinte e um anos. Pode não ter sido sempre feliz, passou por momentos tortuosos e tempestades, mas também por fases de enamoramento e pura alegria. E é essa história que quero recordar com um sorriso de ternura, na certeza que continuaremos amigos, pelo bem-estar do nosso filho, o nosso maior tesouro e a prova maior do amor que nos uniu e que nos manterá ligados. Para sempre.

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