Primeiro ouvi o som. Um gemido aflitivo. Corri da sala para o quarto onde o L. adormecia Peter Pan. Ele já vinha para a luz da cozinha, com o nosso filho virado para baixo, vermelho do esforço de tentar respirar, engasgado com a própria saliva. "Chora, filho, chora para entrar ar". Sustive a respiração naqueles segundos intermináveis de susto, como se o ar que me faltava pudesse ser necessário para ele.
Quando finalmente chorou e se acalmou, adormeci-o no meu colo, e não queria deitá-lo no berço. Lembrei-me de uma conversa que tínhamos tido há quase um mês, quando me caiu a ficha e disse ao L. "Tenho plena consciência que vou passar o resto da minha vida preocupada". E sei que vou mesmo, por mais que ele me diga (e sei que tem toda a razão, e tento fazê-lo, mesmo nos dias em que estou rabujenta com sono) "curte o puto ao máximo, ele não vai ser sempre assim deste tamanho".
Este foi o primeiro susto de muitos, eu sei. Também sei que sou capaz de reagir sem entrar em pânico paralisante. Mas a simples ideia de algum mal ou sofrimento acontecer a este pedaço de gente que enche os meus dias de significado provoca-me um medo angustiante.
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