sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Todo um mundo novo

"Uma vez mais lhe pegou ao colo, o abraçou apertadamente e o cobriu de beijos. (...) Ela precisava de estar sempre perto do pequenito, de o acariciar, de o beijar, de lhe sentir a pele macia, de o cheirar, de ter a certeza que era dela."

In: O Império dos Pardais


O primeiro mês de vida de um recém-nascido é um tumulto de emoções e sentimentos às vezes contraditórios. A ânsia de o absorver e mimar, e o medo de estar a fazer alguma coisa (tudo..) de forma errada.
Nem tudo é fácil, mas também não é de ficar à beira da loucura como tantas vezes ouvi e li. 
Começou logo na maternidade. Peter Pan não sabia mamar. O meu desespero só era comparável ao dele, a chorar desconsoladamente com fome, a sentir o cheiro do tão desejado leite, e sem conseguir alimentar-se. O meu coração partia-se em mil estilhaços. Tive de pedir ajuda às enfermeiras e auxiliares. De cada vez que ele queria mamar. E sempre me ajudaram com um sorriso. E me apoiaram para não desistir. Só tenho elogios a tecer ao pessoal da maternidade de Leiria. A simpatia e profissionalismo de todas (mas mesmo todas) as pessoas que contactaram comigo nos dois dias em que estive internada superou todas as minhas expectativas. 
Regressar a casa foi um alívio mas também uma fonte de receios. Tinha finalmente o silêncio das noites sem o choro continuo de bebés vindo do corredor ou da cama ao lado (passei a primeira noite sozinha no quarto, mas na noite seguinte já tive companhia, e das barulhentas - ora era a bebé que chorava, ou a mãe que ressonava...), mas também não tinha o apoio do pessoal especializado que me tirava todas as dúvidas e me dava segurança por saber que estavam à distância de um toque de campainha. As duas primeiras tentativas de amamentar sozinha foram um teste à minha capacidade de manter a calma. Pelo meu filho. Mas ele foi aprendendo. E aquele momento que começou por ser uma tortura, passou a ser uma delícia para os meus olhos. Vê-lo mamar sacia o meu instinto animal de alimentar a minha cria. 
Não me canso de olhá-lo. Tanto que o L. (tão, mas tão babado como eu...) me chegou a dizer "pára de olhar para ele, assim gastas o puto..." Pai presente, pai carinhoso, pai como eu nunca ousei imaginar nos meus sonhos mais loucos. Eu sabia que o L. ía ser um bom pai, mas não estava à espera que criasse uma ligação tão forte e tão imediata ao filho. Foi a melhor surpresa que eu podia ter desejado. Agradeço-lhe profundamente o facto de ter tirado licença e férias para ficar em casa no primeiro mês e meio de vida de Peter Pan. Sem a ajuda e a descontracção dele, não tería conseguido viver esta nova fase da nossa família com a tranquilidade que ele me transmitiu todos os dias. O amor e  atenção com que lhe muda as fraldas, dá banho ou embala ao colo comovem-me e enternecem-me. 
Depois foi o "drama" do peso. Peter Pan não engordava. Enfermeira aconselhou acordá-lo a intervalos de duas horas e meia, para mamar (de dia e de noite). Assim fiz. Ao terceiro dia a falta de sono começou a fazer estragos na minha paciência e tranquilidade. Pediatra (descontraído mas que nos inspirou confiança assim que abriu a boca) diz para me deixar de meter macacos na cabeça.  E as noites voltam a ser feitas ao ritmo da fome do nosso filho, e não ao nosso. Começou a ganhar peso na semana seguinte. E as bochechas dele não enganam.
Agora estamos na fase das birras de sono (descomunais). Peter Pan tem um olhar atento, e quer ver tudo o que o rodeia. Como podemos querer que durma, se tudo à volta dele é novo e desconhecido, e há tantas cores, e sons, e cheiros para descobrir? Pois...
Todos os dias são diferentes. Todos os dias aprendemos algo novo sobre este pequeno ser que encheu a nossa casa e mudou irremediavelmente a forma como vemos o nosso mundo e as nossas prioridades. Não me canso de olhá-lo. De cheirá-lo. De beijar-lhe a prega de pele por baixo da nuca. De sentir o calor do corpo dele encostado ao meu. De senti-lo meu.

(E já passou um mês...)

2 comentários:

  1. Cara Rosa Negra
    Descobrir a minha Constança/Violante a servir de mote para o primeiro mês de vida do seu filho é muito gratificante. Desejo-vos toda a felicidade do mundo.
    João Paulo Oliveira e Costa

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