terça-feira, 28 de agosto de 2012

Prioridades

Dar de mamar de três em três horas, ir às aulas de ginástica pós-parto, passear sempre que possível, ir lendo algumas linhas do "África Minha" de vez em quando e dormir quando Peter Pan dorme (o melhor conselho que me deram, e que tento seguir religiosamente) não é compatível com o portátil e a net. As minhas prioridades agora são outras. E ainda me falta acabar o quadro para o quarto dele.
Mas a prioridade maior é vê-lo. É absorver cada bocadinho dele. Tirar muitas fotografias e gravar muitos videos. Para lhe mostrar um dia. Para recordar sempre. Porque ele está a crescer e a mudar de dia para dia. Já não é o minorca que trouxemos para casa há pouco mais de um mês. As feições já são diferentes. Os olhos já clarearam. As pernas já estão mais rechonchudas. Já tem mais cabelo.
Quero gravar os movimentos descoordenados dos braços e das pernas, e os sons que ele emite enquanto olha para as próprias mãos, num ensaio do que em breve será um palrar incessante, e o olhar atento com que tenta focar a minha cara enquanto falo com ele, todas as manhãs, entre as 8 e as 9 horas, quando está desperto e bem disposto e só quer conversa. E o som adorável que faz a chuchar, e que só me faz lembrar a Maggie dos Simpsons. Quero fotografar vezes sem fim a expressão de satisfação beatífica que ele faz quando acaba de mamar, braços para cima e bochechas cheias que cubro de beijos para lhe sentir a pele quente. Quero guardar na memória o cheiro doce da pele dele, que um dia (tão assustadoramente próximo) vai desaparecer. Porque ele nunca mais vai ser assim tão pequenino.
(E eu vou ter tantas saudades...)

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Enfim sós

Hoje foi o primeiro dia em que fiquei sozinha com o meu filho. Durante um mês e uma semana, o L. foi uma presença constante e uma ajuda valiosa. Durante um mês e uma semana andou de calções e chinelos a embalar o filho ao colo durante horas a fio. E a dar-lhe banho. Agora que penso nisso, só dei um banho ao Peter Pan, e foi no primeiro dia em que chegámos a casa.
Hoje passámos o dia entregues um ao outro. E tive a noção da realidade que já me tinham anunciado: "nunca mais vais estar sozinha".
(Sabe tão bem...)

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Todo um mundo novo

"Uma vez mais lhe pegou ao colo, o abraçou apertadamente e o cobriu de beijos. (...) Ela precisava de estar sempre perto do pequenito, de o acariciar, de o beijar, de lhe sentir a pele macia, de o cheirar, de ter a certeza que era dela."

In: O Império dos Pardais


O primeiro mês de vida de um recém-nascido é um tumulto de emoções e sentimentos às vezes contraditórios. A ânsia de o absorver e mimar, e o medo de estar a fazer alguma coisa (tudo..) de forma errada.
Nem tudo é fácil, mas também não é de ficar à beira da loucura como tantas vezes ouvi e li. 
Começou logo na maternidade. Peter Pan não sabia mamar. O meu desespero só era comparável ao dele, a chorar desconsoladamente com fome, a sentir o cheiro do tão desejado leite, e sem conseguir alimentar-se. O meu coração partia-se em mil estilhaços. Tive de pedir ajuda às enfermeiras e auxiliares. De cada vez que ele queria mamar. E sempre me ajudaram com um sorriso. E me apoiaram para não desistir. Só tenho elogios a tecer ao pessoal da maternidade de Leiria. A simpatia e profissionalismo de todas (mas mesmo todas) as pessoas que contactaram comigo nos dois dias em que estive internada superou todas as minhas expectativas. 
Regressar a casa foi um alívio mas também uma fonte de receios. Tinha finalmente o silêncio das noites sem o choro continuo de bebés vindo do corredor ou da cama ao lado (passei a primeira noite sozinha no quarto, mas na noite seguinte já tive companhia, e das barulhentas - ora era a bebé que chorava, ou a mãe que ressonava...), mas também não tinha o apoio do pessoal especializado que me tirava todas as dúvidas e me dava segurança por saber que estavam à distância de um toque de campainha. As duas primeiras tentativas de amamentar sozinha foram um teste à minha capacidade de manter a calma. Pelo meu filho. Mas ele foi aprendendo. E aquele momento que começou por ser uma tortura, passou a ser uma delícia para os meus olhos. Vê-lo mamar sacia o meu instinto animal de alimentar a minha cria. 
Não me canso de olhá-lo. Tanto que o L. (tão, mas tão babado como eu...) me chegou a dizer "pára de olhar para ele, assim gastas o puto..." Pai presente, pai carinhoso, pai como eu nunca ousei imaginar nos meus sonhos mais loucos. Eu sabia que o L. ía ser um bom pai, mas não estava à espera que criasse uma ligação tão forte e tão imediata ao filho. Foi a melhor surpresa que eu podia ter desejado. Agradeço-lhe profundamente o facto de ter tirado licença e férias para ficar em casa no primeiro mês e meio de vida de Peter Pan. Sem a ajuda e a descontracção dele, não tería conseguido viver esta nova fase da nossa família com a tranquilidade que ele me transmitiu todos os dias. O amor e  atenção com que lhe muda as fraldas, dá banho ou embala ao colo comovem-me e enternecem-me. 
Depois foi o "drama" do peso. Peter Pan não engordava. Enfermeira aconselhou acordá-lo a intervalos de duas horas e meia, para mamar (de dia e de noite). Assim fiz. Ao terceiro dia a falta de sono começou a fazer estragos na minha paciência e tranquilidade. Pediatra (descontraído mas que nos inspirou confiança assim que abriu a boca) diz para me deixar de meter macacos na cabeça.  E as noites voltam a ser feitas ao ritmo da fome do nosso filho, e não ao nosso. Começou a ganhar peso na semana seguinte. E as bochechas dele não enganam.
Agora estamos na fase das birras de sono (descomunais). Peter Pan tem um olhar atento, e quer ver tudo o que o rodeia. Como podemos querer que durma, se tudo à volta dele é novo e desconhecido, e há tantas cores, e sons, e cheiros para descobrir? Pois...
Todos os dias são diferentes. Todos os dias aprendemos algo novo sobre este pequeno ser que encheu a nossa casa e mudou irremediavelmente a forma como vemos o nosso mundo e as nossas prioridades. Não me canso de olhá-lo. De cheirá-lo. De beijar-lhe a prega de pele por baixo da nuca. De sentir o calor do corpo dele encostado ao meu. De senti-lo meu.

(E já passou um mês...)

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

É só isto...

"Mas era puro o amor que sentia. Era religioso. (…) Senti-me tão profunda e terrivelmente feliz. Pensei para comigo mesma: Seja lá o que for este sentimento, é por ele que tenho rezado. E também é a ele que tenho rezado.”

In: Comer, Orar, Amar

sábado, 4 de agosto de 2012

Embalar(-nos)

Darko e Sandra Celas 
"Para Nunca Mais (Acordar)"