segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Ternura (VII)

Depois de estar dedicada aos trabalhos manuais até às 4 e meia da manhã (quadrados de lã, camisolas de gola alta que deixaram de o ser e calças de ganga que serão umas belas skinny depois de terem um encontro escaldante com a máquina de costura da mãe), acordo tarde mas preparada para duas horas de babysitting com as princesas (as de carne e osso e as dos filmes da Barbie). Mas a I. está eléctrica e não deixa a irmã dormir, por isso a Paula leva-a e fico com a S. sonolenta e amorosa.
Choraminga quando as vê sair. Entretém-se com as lãs que estão no cesto, tira-as todas para o chão; dá-me os novelos, um a um, e no fim pede-mos todos outra vez, um a um. Deito-a no sofá e ela esconde a cara na almofada felpuda e agarra o corvo de peluche que é quase do tamanho dela. De vez em quando afasta o bico do corvo só para ver se eu ainda aqui estou. No momento em que acho que ela está mesmo a ferrar, levanta-se, escorrega cuidadosamente pelo sofá abaixo e vai em passos hesitantes até à entrada, aponta para o casaco dela que está pendurado no bengaleiro, e assim que lhe pego estende um braço para que lho vista, porque sabe que é assim que se vai embora. Segue-me até à casa de banho, puxa uma das toalhas e enrola-a à volta do pescoço, como um babete. Segue-me até à cozinha e esconde-se de lado no frigorífico, depois espreita e diz "cucu". E sorri. De vez em quando as pernas fraquejam e cai de cu, olha para mim meio espantada mas não chora nem pede colo. Levanta-se sozinha e continua. Já diz "olá" e "não queio", não gosta de beijos nem de se sentir apertada. Tem uma popa indomável de caracóis castanhos claros e semicerra os olhos a fazer pose para a máquina fotográfica. Tem um olhar doce e meigo e um sorriso tímido e que tem de ser conquistado.
E é tão engraçado ver este ser que me dá pelos joelhos, a dar os primeiros passos como se fosse um boneco a pilhas, a esfregar os olhos enquanto luta contra o sono, e a afastar as minhas mãos quando só me apetece aconchegá-la e enchê-la de mimo.

2 comentários:

  1. Sem dúvida uma escrita cheia de ternura :)

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  2. Obrigado, Anna^, mas com uma fonte de inspiração destas, é fácil de mais... :))

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