sábado, 30 de janeiro de 2010

Divagar

Volto à minha rotina de dormir até ao meio-dia, sem remorsos porque o sol teima em não me querer alegrar o fim-de-semana e convidar para sair. Levanto-me para tomar o pequeno-almoço, beber café e fumar um cigarro. Volto a enfiar-me no quente dos lençóis e devoro páginas seguidas do livro, algo que eu não fazia há muito tempo, lembro-me de adorar passar as manhãs assim quando tinha 12, 13 anos, deitada a ler. Nessa altura (credo, pareço aqueles velhotes sentados nos bancos de jardim...) os livros deslumbravam-me mais, ultimamente não tenho encontrado essa magia, esse condão de me fazer abstrair de tudo o que me rodeia e de me levar para outros mundos, outras paisagens, outros cheiros. Já não se fazem livros assim, daqueles que fazem sonhar? Ou então sou eu que não sei escolher, também é verdade que o meu critério de escolha é altamente tendencioso e nada científico, escolher os livros pela capa dá nisto, e devia ser uma lição de vida aplicada às pessoas, mas essas eu não escolho pela capa, muitas vezes nem sou eu que escolho, são elas que me escolhem a mim.
"Escreve como pensas". É isso que estou a fazer com a caneta de tinta verde na Moleskine comprada na Madeira (e já passou mais de um ano, e já aconteceu tanta coisa desde aí, o casal que foi connosco já tem uma filha...), sentada numa mesa de uma pastelaria de paredes negras e vermelhas, e cadeiras das mesmas cores, ao som de Enya. Quando entrei havia pelo menos dez pessoas espalhadas pelas mesas, um casal com os filhos, umas velhotas a tomar o chá das 5, um homem a um canto a ler o jornal. Agora, depois de "almoçar" uma tosta mista e um galão que me souberam divinamente, sou a única pessoa aqui, para além da empregada simpática que está a um canto do balcão a sussurrar para o namorado dread de camisola de capuz a cobrir a cabeça.
Decidi sair de casa mesmo sem sol quando soube que ía ser trocada por um mecânico de jipes a tarde inteira. Peguei na máquina fotográfica que não é nossa mas passa os fins-de-semana lá em casa, e antes de ir ver a minha afilhada que está doente (nada de mais, dentes a nascer, baba e febre e ranho com fartura, mas a S. entra em pânico, não sabe o que fazer porque a pequena não come e só quer colo - será que eu vou ser assim? Espero não stressar tanto, encarar cada fase com mais naturalidade e calma, vou tentando aprender com os erros dos outros para quando chegar a minha vez não os cometer - hei-de cometer outros, mas pronto...) parei em Constância, passeei junto ao rio a ouvir as folhas secas a quebrar debaixo das botas, a ver as árvores despidas e tristes, e a interiorizar o silêncio de um parque quase deserto apesar de ser sábado.

No regresso meti-me pelas ruelas estreitas de casas senhoriais, muitas delas a cair aos bocados e com placas a anunciar "Vende-se", e fiquei com pena destas casas moribundas que ninguém quer, porque imagino-as imponentes e belas noutros tempos, e agora perderam todo o seu encanto (e eu não posso escrever mais porque fiquei sem folhas, tenho de ir comprar outra Moleskine!!).

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