"Passou tudo tão depressa / nunca te falei de mim / o que digo não importa / o que sinto talvez sim."
domingo, 18 de novembro de 2012
O amor mais puro
Peter Pan dorme sozinho no quarto dele desde os dois meses e uma semana. Toma banho, mama e adormece sereno e sem refilar entre as 8 e as 8 e meia da noite. Acordava para mamar à meia noite, às 3 e às 6 da manhã. Desde a semana passada só tem acordado à meia noite (ou 1) e às 4. Às 7 e meia começamos a ouvir os miados dele. Passa os 20 minutos seguintes a "falar" sozinho, ou a choramingar quando se chateia de estar às escuras. O pai vai levantá-lo e vê-lhe o primeiro sorriso rasgado do dia. Abre as persianas da casa toda com ele ao colo, e vê-lhe os olhos a piscar com tanta luz. Trá-lo para a nossa cama e é a minha vez de receber um sorriso enorme. Brinca com ele uns minutos e muda-lhe a fralda antes de ir tomar banho. É o ritual deles, todas as manhãs. O nosso dia, depois de o L. ir trabalhar, passa entre as horas de amamentar e as sestas de 20 minutos, os peluches coloridos que só servem para enfiar na boca (ou as mãos, ou uma fralda de pano, ou qualquer coisa que apanhe a jeito), as (minhas) palhaçadas para o ver rir, as longas conversas que ele ouve muito atento e responde com grunhidos ou gritinhos, enquanto esbraceja e esperneia freneticamente, uns minutos de BabyTV de vez em quando e muita música clássica.
Peter Pan aprendeu a fazer bruuuu e agora é um festival de cuspo a sair daquela boca (só ontem foram para a máquina de lavar 14 babetes...). Nós tentamos não rir mas ele acha tanta piada que é impossível fazermos cara feia (e também não ía servir de nada). Odeia frio e chora desalmadamente se a água do banho não está quase a escaldar. Adora a roca com o urso azul que a S. e o Z. lhe deram, e o peluche do Nemo que o padrinho lhe ofereceu (mas só servem para enfiar na boca, claro). Refila sempre que o pomos no ovo e o prendemos com os cintos, mas assim que sai à porta de casa cala-se, por maior que fosse a choradeira que estivesse a fazer. E pode estar a dormir há dez minutos ou há três horas fora de casa, assim que entramos e pousamos o ovo na sala, ele acorda. É um castigo dar-lhe água, torce o nariz porque está fria, e só aceita a chucha para adormecer, mas à mínima oportunidade cospe-a para longe. Durante o dia só adormece ao colo, e é preciso estar mesmo ferrado para o deitar na espreguiçadeira (nunca no berço, parece que lhe estão a espetar pregos nas costas) e ele não abrir logo os olhos. De noite dou-lhe um beijo na testa, deito-o no berço, ainda com os olhos abertos, no quarto dele só com uma luz de presença acesa, e ele adormece sozinho e sem chorar.
Quero guardar todos estes pormenores como guardo as centenas de fotografias e videos dos últimos quatro meses. Vejo os dias a passar demasiado depressa e a altura de voltar ao trabalho e separar-me dele por mais de um par de horas a aproximar-se perigosamente. Gosto muito de trabalhar, de me sentir produtiva e activa, e não me estou a ver a deixar o emprego para ficar em casa a cuidar dos filhos. Mas imaginar o dia em que vou deixar Peter Pan na ama (que já está escolhida há dois meses e em quem tenho toda a confiança) de manhã e só volto a ir buscá-lo à tarde deixa-me um nó na garganta sem explicação (sei que me vai custar mais a mim do que a ele, mas esse pensamento não me deixa mais descansada nem um bocadinho).
Emociono-me todos os dias com esta dádiva que me foi dada, com este amor puro que me foi concedido sentir, um amor que dá sem esperar nada em troca, a não ser um sorriso, o sorriso que me derrete o coração e me deixa rendida. Só posso desejar isto, que o nosso filho pequenino (como o L. lhe chama nos sms's que me envia durante o dia para saber se está tudo bem) tenha sempre motivos para sorrir.
Não posso querer mais nada. Eu tenho tudo o que pedi.
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